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O silêncio

O silêncio

Por definição no dicionário, “é o estado de uma pessoa que cessou ou se abstém de falar ou de produzir qualquer som” Para mim nem sempre o sinto desta forma pelo menos a nível interno. Há sons ou sonoridades que vão surgindo a um nível mais profundo e que criam vibrações e estímulos para a sua reprodução oral, no entanto nem todas estas sonoridades internas são reproduzidas e nem sempre aquilo que reproduzo oralmente está em consonância com a minha sonoridade interna.

A nível religioso, o “Voto de silêncio” é professado num contexto monástico. Conhecido como “mauna” no hinduísmo, jainismo e budismo e é parte integral de algumas tradições cristãs.

O “Minuto de silêncio” é a expressão utilizada para um momento de contemplação, oração, reflexão ou meditação silenciosa. É também um sinal de respeito ou luto com aqueles que morreram recentemente ou como parte de um evento histórico ou trágico.

Para a grande maioria dos cantores e atores o silêncio é um suplicio, descrevem-no como um vazio, inação ausência ou escuridão representando a incapacidade de fazer ou acontecer algo. Para outros um momento de inspiração, sossego ou repouso. Em conversa com Pascale Ben ela descreve como a altura em que damos ao público a possibilidade de imaginar o que poderá suceder no momento seguinte, criando uma certa espectativa ou suspense, por vezes surpresa e riqueza no trabalho e no espectador ou ouvinte. A famosa peça 4´33” composta em 1952 por Stockhausen (1928 – 2007) com o qual Roy Hart trabalhou, em que um pianista entra em palco com a postura e intenção de tocar ao piano e não toca absolutamente nada. A música é feita pela tosse, risos e protestos do público incapaz de aguentar 4´33” minutos em silêncio. O músico Norte Americano John Cage afirma que “ a música europeia poderia ser melhorada com um pouco de silêncio” sendo o título do seu primeiro livro (Silence) aqui ele não o concebe como o contrário, mas sim como seu complemento.


“Nenhum som teme o silêncio que o extingue e não há silêncio que não seja grávido de som”

Podemos encontrar um outro tipo de silêncio no quadro Branco sobre branco do pintor russo Kasimir Malevich (1878 – 1935), abole objetos, figuras humanas e não humanas, paisagens, em que para o pintor, a tela representa a absoluta subjetividade para deixar a tela completamente branca. Já na obra de Clarice Lispector o silêncio vai-se elaborando à sombra da palavra, a escritora opera na verticalidade em que os seus textos parecem contar sempre a mesma história, por isso não podem ser divididos em fases, numa perspectiva de progressão. No seu livro publicado postumamente Um sopro de vida, num dialogo entre o autor e a sua personagem Ângela Prallini, esta afirma:


Há um silêncio total dentro de mim. Assusto-me. Como explicar que esse silêncio é aquele que chamo de o Desconhecido. Tenho medo dele. Não porque pudesse ele infantilmente castigar-me (castigo é coisa de homens) . É um medo que vem do que me ultrapassa. E que é eu também. Porque é grande a minha grandeza

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